Entenda as mudanças que podem afetar o crédito no Brasil
Quando falamos sobre cartões de crédito, há muitas dúvidas sobre como utilizá-lo de forma que se torne um aliado para as finanças pessoais e poder de compra. Porém, também é notável que a questão dos juros do rotativo no cartão de crédito ainda gera muitas dúvidas. Por isso, saiba agora o que é o rotativo do cartão, como ele funciona e quais as vantagens e desvantagens de limitar os juros via lei.
O que é o rotativo?
O crédito rotativo é o nome que se dá ao crédito que uma pessoa utiliza cada vez que não paga a fatura completa do cartão. Se ela pagar o valor mínimo ou qualquer valor abaixo do saldo da fatura, o saldo restante entra no crédito rotativo, ficando para o mês seguinte ou até sendo parcelado.
Só que esse crédito, embora seja fácil de usar, é extremamente caro. Segundo dados, os juros dessa modalidade podem facilmente ultrapassar 15% ao mês. Em termos totais, isso corresponde a mais de 410% ao ano, o que faz do rotativo a modalidade de crédito com maior taxa de juros no Brasil.
Até para os padrões globais de cartões, os juros brasileiros são extremamente altos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa de juros no cartão raramente ultrapassa 20% ao ano — quase a taxa de juros mensal aplicada aqui.
Sempre que o cliente não paga a fatura, o saldo restante se acumula para o mês seguinte, mais os juros oriundos do rotativo. Antes de 2017, o rotativo se estendia até o cliente quitar a fatura completa. Isso fazia o saldo da fatura se acumular com os juros e aumentar a cada mês, criando uma verdadeira bola de neve.
Entretanto, em 2017, o Conselho Monetário Nacional (CMN) limitou o acúmulo no rotativo ao máximo de 30 dias. O cliente que atrasasse a fatura além desse período teria o saldo devedor remanejado para uma opção de parcelamento da fatura, de maneira automática.
Apesar de mais barato do que o rotativo, os juros do parcelamento do cartão também são elevados, podendo superar os 190% ao ano.
Por que os juros são altos?
Não existe uma única razão pela qual os juros do cartão são altos no Brasil, mas sim uma combinação de fatores.
O principal deles é a alta inadimplência dos brasileiros, visto que mais de 72% das pessoas não pagam suas faturas do cartão em dia. Isso faz com que os bancos coloquem taxas mais altas para compensar o risco de não receber o pagamento.
Além disso, a taxa de recuperação de dívidas no Brasil é muito baixa, o que faz com que seja difícil que um endividado pague toda a sua dívida. Dessa forma, os bancos colocam os juros mais altos para compensar o risco de não conseguir recuperar o valor devido.
Mas os juros altos também aumentam a inadimplência das pessoas, que se veem em meio a dívidas que crescem exponencialmente a cada mês. Logo, deixam de pagar as faturas, alimentando a inadimplência e criando um círculo vicioso.
Vale lembrar que no Brasil há uma certa concentração bancária. Mesmo com o crescimento dos bancos digitais, apenas cinco grandes bancos concentram mais de 80% das operações de crédito no país. Menos concorrência faz com que os juros sejam maiores, deixando o cidadão sem alternativas de menor custo.
Opiniões
Tanto o governo quanto os bancos concordam que os juros altos são um problema no Brasil, mas eles divergem quanto à melhor forma de atacar esse problema.
O Banco Central, por exemplo, defende a extinção do rotativo e que as faturas em atraso pagas sejam automaticamente migradas para o parcelamento. Apesar de ainda ser alto, os juros são menores do que o rotativo e o parcelamento pode dar um maior controle ao cidadão.
Já o governo defendia o tabelamento dos juros, medida que foi aprovada na nova lei e que recebeu críticas dos bancos. Na visão deles, abolir o rotativo e limitar os juros vai restringir a oferta de cartões de crédito, prejudicando o bom pagador que terá o acesso ao cartão limitado.
Os bancos também defendem a restrição do parcelamento sem juros, seja no número de parcelas, seja no valor da compra. No entanto, essa proposta não foi aprovada na nova lei.